segunda-feira, 22 de outubro de 2012

DESENVOLVIMENTO


III.                   Desenvolvimento
Num primeiro momento, representantes de alunos das diversas turmas, serão convidados a uma aula de campo em Exu, para visitar o Museu de Luiz Gonzaga; a ouvir músicas de Luiz Gonzaga como a Triste Partida; a ler as obras literárias que têm como pano de fundo a seca, como: O Quinze de Rachel de Queiróz, Vidas Secas de Graciliano Ramos e Os Sertões de Euclides da Cunha; num segundo momento, produzirão releituras das obras citadas e material intertextual a partir das mesmas e das letras de música de Luiz Gonzaga. No momento final serão exibidos os resultados para a comunidade escolar. Toda a produção final, resultante do projeto, será socializada com a comunidade escolar e seu entorno. Circulará na escola neste dia os cordéis produzidos pelos alunos, o jornal “Oxente Fala!”, os blogs das turmas “Gonzagueando Leituras” serão exibidos em data show, as peças teatrais e os musicais serão apresentados e vistos por toda a comunidade escolar. O projeto acontecerá seguindo essas etapas: 1ª etapa: Aula de Campo, leitura, audição de música; 2ª etapa: produção de material intertextual como cordéis, texto para jornal, texto para blog, peças teatrais, musicais; 3ª etapa: Culminância ou socialização, onde a comunidade escolar e seu entorno viverá um dia de homenagem ao Centenário de Luiz Gonzaga, apreciará as produções dos alunos, assistirá a uma mesa redonda sobre a temática da seca e viverá a integração família-escola tão necessária na melhoria do desempenho dos alunos.
Os alunos serão convidados a fazer leituras e reconstruir textos a partir do seu cotidiano. Relacionar livros, trechos de textos, letra de música, gêneros literários diversos, inclusive o mais procurado pelos alunos hoje, o hipertexto, serão algumas das atividades propostas na sala de aula durante a execução do projeto. Nesse sentido, o foco do mesmo é a leitura diferenciada, a intertextualidade, a diversidade dos gêneros literários e o sentido social que se pode dar a todo esse processo de aproximação e recriação de textos e contextos, como forma de assegurar o letramento. Nada mais é, do que dá sentido social ao que é lido. A ideia é corrigir o déficit de leitura e produção de texto na escola, buscando um significado social para a produção dos alunos.

                     Cabe então ao professor, mais do que alfabetizar, realizar o letramento de seus alunos, isto é, habilitá-los a exercer amplamente a condição que decorre do fato de terem-se apropriado da leitura e da escrita. Face á pluralidade de estímulos escritos, o professor precisa instrumentalizar o estudante a explorar as diferentes possibilidades de dialogar com os textos, o que implica utilizar a palavra lida/escrita para refletir e interagir com diferentes práticas sociais de cultura, entre as quais se insere a leitura. (Carvalho, 2006, p. 163)

A leitura da obra de Luiz Gonzaga permite ao aluno todas essas possibilidades, uma vez que ele estará lendo, cantando, produzindo textos, relacionando-os a obras literárias regionalistas clássicas e dando sentido às suas produções, seja através de um cordel, de uma paródia, de um texto para o jornal escolar, de um hipertexto no blog da escola, da apresentação de uma peça teatral criada a partir da letra da música, uma dança, dentre outras.
As músicas de Luiz Gonzaga nos remetem ao cotidiano do sertão, da seca, da vida sofrida do sertanejo e é a partir dessa realidade que o aluno vai perceber a relação existente, por exemplo, entre o personagem Fabiano do livro Vidas Secas de Graciliano Ramos, a letra de Triste Partida, a seca que atinge sua cidade hoje e a possibilidade de produção de um cordel.

                                     Formar leitores implica destinar tempo e criar ambientes favoráveis à leitura literária, em atividades que tenham finalidade social, que se consolidem através de leitura silenciosa individual, promovendo o contato com textos variados nos quais os alunos possam encontrar respostas para as suas inquietações, interesses e expectativas. Ler não se restringe à prática exaustiva de análise, quer de excertos, quer de obras completas, pois o prazer, a afirmação da identidade e o alargamento das experiências passam pela subjetividade do leitor e resultam de projeções múltiplas em diferentes universos textuais. Nesse caso, o papel da escola é torna-lo mais apto a fruir o texto. ( Filipouski, 2009, p. 23)

Toda a obra de Luiz Gonzaga permite várias reflexões sobre a realidade do aluno, promovendo uma interdisciplinaridade que convida as várias áreas do conhecimento a se deleitarem com as possibilidades de exploração de conteúdos variados. Além de facilitar o aprendizado do aluno,  a música é uma atividade lúdica que permite o enriquecimento cultural do mesmo. Desde as cantigas de ninar, passando pelas cantigas de roda, a música exerce um fascínio sobre as pessoas. As práticas pedagógicas, com o uso de letras de músicas, têm alcançado os objetivos propostos, uma vez que a receptividade dos alunos a uma atividade musical é  comprovadamente maior. É como se eles percebessem uma vontade maior do professor em ensinar e deles em aprender. Portanto, a música deve ser esse caminho alternativo para a aprendizagem. Sem falar, que se tratando de um texto, a música é uma forte concorrente em atrair o olhar do aluno, sem nenhuma repugnância, já que o mesmo tem uma relação diplomática com o texto musical. A identificação emocional do aluno sertanejo com a letra das canções de Luiz Gonzaga permite que haja uma empatia automática entre texto e leitor, como podemos constatar, nesse trecho de Asa Branca:

                                             Quando olhei a terra ardendo/ Qual fogueira de São João Eu perguntei a Deus do céu, ai/ Por que tamanha judiação Que braseiro, que fornalha/ Nem um pé de plantação Por falta d'água perdi meu gado / Morreu de sede meu alazão Até mesmo a asa branca / Bateu asas do sertão Então eu disse adeus Rosinha / Guarda contigo meu coração Quando o verde dos teus olhos / Se espalhar na plantação
Eu te asseguro não chores não, viu/ Que eu voltarei, viu Meu coração... 
(Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, 1947)
O projeto Gonzagueando Leituras – o letramento literário e digital a partir da obra de Luiz Gonzaga pretende aproximar o aluno de textos literários a partir de textos musicais, abordando a cultura do nordestino, seu cotidiano e promovendo a intertextualidade, a interdisciplinaridade e a formação de escritores e leitores com proficiência no espaço da escola. Temos a preocupação de superar as dificuldades dos alunos na interpretação de textos, deficiência comprovada através do resultado do SAEPE 2011, onde ficou clara a defasagem dos alunos em descritores considerados básicos na formação de escritores e leitores na escola. Inferir informação em um texto, identificar o tema central de um texto, reconhecer semelhanças e/ou diferenças de ideias e opiniões na composição entre textos que tratem da mesma temática, são algumas das dificuldades dos nossos alunos que iremos tentar superar, na tentativa de formar alunos escritores e leitores competentes. A obra de Luiz Gonzaga permitiu um olhar novo sobre o nordeste sofrido do começo do século XX. Vejamos:
                               Gonzaga utilizou a própria reputação e chamou a atenção de vários governos para o problema do empobrecimento material da região e o respectivo contraste com a sua riqueza cultural. Os reclamos desencadearam investimentos em irrigação e revitalização de áreas atingidas pela seca. Atitudes como essas fizeram de Gonzaga um artista pioneiro em questionar a marginalização da cultura nordestina. Não a toa, Asa Branca, passou a ser cantada em muitos movimentos sociais e se tornou um símbolo de luta de nordestinos e de muitos brasileiros das demais regiões... (Revista Continente, junho de 2012, p. 31)
Esse projeto terá a participação de todos os professores que fazem a escola, especialmente aqueles da área de linguagens e códigos, que irão trabalhar diretamente as competências de leitura e produção de textos. Retomando a obra de Luiz Gonzaga e o nordeste como pano de fundo, teremos muito a estudar nas disciplinas da área de humanas, uma vez que a história, a geografia e a sociologia do nordeste e do sertanejo permitem a compreensão do universo do aluno e a valorização da identidade desse povo.
Importante também nesse projeto é a pretensão de formar autores digitais, alunos que possam socializar na internet ideias, recontruí-las coletivamente e permitir a socialização das mesmas em um veículo de processamento instantâneo que é a internet. Serão feitos blogs com o mesmo nome do projeto para cada turma do ensino médio, assim os alunos produzirão textos para serem lidos virtualmente pelos colegas. Essa ideia de ser visto, lido, notado, aumenta a autoestima do jovem, fazendo com que ele ganhe autonomia para produzir cada vez mais. O texto virtual, ou hipertexto, tem a vantagem de poder ser corrigido instantaneamente quantas vezes o professor achar necessário, tornando o aluno um autor e o seu colega um coautor. Aproximar a relação de autor e leitor é uma alternativa para criar um diálogo entre ambos, gerando a intertextualidade tão falada nesse projeto.

E por que considero os hipertextos uma faceta tão especial? Porque são uma forma inferencial de representar o conhecimento, construímos significados ( e compreendemos as coisas que nos rodeiam) estabelecendo correlações, fazendo inferências. O hipertexto permite que essas correlações (ou ao menos parte delas) sejam representadas de forma concreta e operacional. Ao lermos um hiperdocumento seguindo uma via em especial, temos uma visão particular e estabelecemos algumas correlações. Seguindo outras vias, percebemos outras relações, outras inferências e formas de compreender o conhecimento ali representado. (Bianconcini & Moran, 2005, p.169)

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