III.
Desenvolvimento
Num primeiro momento, representantes de alunos das
diversas turmas, serão convidados a uma aula de campo em Exu, para visitar o
Museu de Luiz Gonzaga; a ouvir músicas de Luiz Gonzaga como a Triste Partida; a
ler as obras literárias que têm como pano de fundo a seca, como: O Quinze de
Rachel de Queiróz, Vidas Secas de Graciliano Ramos e Os Sertões de Euclides da
Cunha; num segundo momento, produzirão releituras das obras citadas e material
intertextual a partir das mesmas e das letras de música de Luiz Gonzaga. No
momento final serão exibidos os resultados para a comunidade escolar. Toda a
produção final, resultante do projeto, será socializada com a comunidade
escolar e seu entorno. Circulará na escola neste dia os cordéis produzidos
pelos alunos, o jornal “Oxente Fala!”, os blogs das turmas “Gonzagueando
Leituras” serão exibidos em data show, as peças teatrais e os musicais serão
apresentados e vistos por toda a comunidade escolar. O projeto acontecerá
seguindo essas etapas: 1ª etapa: Aula de Campo, leitura, audição de música; 2ª
etapa: produção de material intertextual como cordéis, texto para jornal, texto
para blog, peças teatrais, musicais; 3ª etapa: Culminância ou socialização,
onde a comunidade escolar e seu entorno viverá um dia de homenagem ao Centenário
de Luiz Gonzaga, apreciará as produções dos alunos, assistirá a uma mesa
redonda sobre a temática da seca e viverá a integração família-escola tão
necessária na melhoria do desempenho dos alunos.
Os alunos serão convidados a fazer leituras e
reconstruir textos a partir do seu cotidiano. Relacionar livros, trechos de
textos, letra de música, gêneros literários diversos, inclusive o mais
procurado pelos alunos hoje, o hipertexto, serão algumas das atividades
propostas na sala de aula durante a execução do projeto. Nesse sentido, o foco
do mesmo é a leitura diferenciada, a intertextualidade, a diversidade dos gêneros
literários e o sentido social que se pode dar a todo esse processo de
aproximação e recriação de textos e contextos, como forma de assegurar o
letramento. Nada mais é, do que dá sentido social ao que é lido. A ideia é
corrigir o déficit de leitura e produção de texto na escola, buscando um significado
social para a produção dos alunos.
Cabe
então ao professor, mais do que alfabetizar, realizar o letramento de seus
alunos, isto é, habilitá-los a exercer amplamente a condição que decorre do
fato de terem-se apropriado da leitura e da escrita. Face á pluralidade de
estímulos escritos, o professor precisa instrumentalizar o estudante a explorar
as diferentes possibilidades de dialogar com os textos, o que implica utilizar
a palavra lida/escrita para refletir e interagir com diferentes práticas
sociais de cultura, entre as quais se insere a leitura. (Carvalho, 2006, p. 163)
A leitura
da obra de Luiz Gonzaga permite ao aluno todas essas possibilidades, uma vez
que ele estará lendo, cantando, produzindo textos, relacionando-os a obras
literárias regionalistas clássicas e dando sentido às suas produções, seja
através de um cordel, de uma paródia, de um texto para o jornal escolar, de um
hipertexto no blog da escola, da apresentação de uma peça teatral criada a
partir da letra da música, uma dança, dentre outras.
As músicas de Luiz Gonzaga nos remetem ao cotidiano
do sertão, da seca, da vida sofrida do sertanejo e é a partir dessa realidade
que o aluno vai perceber a relação existente, por exemplo, entre o personagem
Fabiano do livro Vidas Secas de Graciliano Ramos, a letra de Triste Partida, a
seca que atinge sua cidade hoje e a possibilidade de produção de um cordel.
Formar
leitores implica destinar tempo e criar ambientes favoráveis à leitura
literária, em atividades que tenham finalidade social, que se consolidem
através de leitura silenciosa individual, promovendo o contato com textos
variados nos quais os alunos possam encontrar respostas para as suas
inquietações, interesses e expectativas. Ler não se restringe à prática
exaustiva de análise, quer de excertos, quer de obras completas, pois o prazer,
a afirmação da identidade e o alargamento das experiências passam pela
subjetividade do leitor e resultam de projeções múltiplas em diferentes
universos textuais. Nesse caso, o papel da escola é torna-lo mais apto a fruir
o texto. ( Filipouski, 2009, p. 23)
Toda a
obra de Luiz Gonzaga permite várias reflexões sobre a realidade do aluno, promovendo
uma interdisciplinaridade que convida as várias áreas do conhecimento a se
deleitarem com as possibilidades de exploração de conteúdos variados. Além de
facilitar o aprendizado do aluno, a
música é uma atividade lúdica que permite o enriquecimento cultural do mesmo.
Desde as cantigas de ninar, passando pelas cantigas de roda, a música exerce um
fascínio sobre as pessoas. As práticas pedagógicas, com o uso de letras de
músicas, têm alcançado os objetivos propostos, uma vez que a receptividade dos alunos
a uma atividade musical é comprovadamente
maior. É como se eles percebessem uma vontade maior do professor em ensinar e
deles em aprender. Portanto, a música deve ser esse caminho alternativo para a
aprendizagem. Sem falar, que se tratando de um texto, a música é uma forte
concorrente em atrair o olhar do aluno, sem nenhuma repugnância, já que o mesmo
tem uma relação diplomática com o texto musical. A identificação emocional do
aluno sertanejo com a letra das canções de Luiz Gonzaga permite que haja uma
empatia automática entre texto e leitor, como podemos constatar, nesse trecho
de Asa Branca:
Quando
olhei a terra ardendo/ Qual fogueira de São João Eu perguntei a Deus do céu, ai/ Por que tamanha judiação Que braseiro, que fornalha/ Nem um pé de plantação Por falta d'água perdi meu gado / Morreu de sede meu alazão Até mesmo a asa branca / Bateu asas do sertão Então eu disse adeus Rosinha / Guarda contigo meu coração Quando o verde dos teus olhos / Se espalhar na plantação
Eu te asseguro não chores não, viu/ Que eu voltarei, viu Meu coração... (Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, 1947)
O projeto Gonzagueando Leituras
– o letramento literário e digital a partir da obra de Luiz Gonzaga pretende
aproximar o aluno de textos literários a partir de textos musicais, abordando a
cultura do nordestino, seu cotidiano e promovendo a intertextualidade, a
interdisciplinaridade e a formação de escritores e leitores com proficiência no
espaço da escola. Temos a preocupação de superar as dificuldades dos alunos na
interpretação de textos, deficiência comprovada através do resultado do SAEPE
2011, onde ficou clara a defasagem dos alunos em descritores considerados
básicos na formação de escritores e leitores na escola. Inferir informação em
um texto, identificar o tema central de um texto, reconhecer semelhanças e/ou
diferenças de ideias e opiniões na composição entre textos que tratem da mesma
temática, são algumas das dificuldades dos nossos alunos que iremos tentar
superar, na tentativa de formar alunos escritores e leitores competentes. A
obra de Luiz Gonzaga permitiu um olhar novo sobre o nordeste sofrido do começo
do século XX. Vejamos:
Gonzaga utilizou a própria reputação e chamou
a atenção de vários governos para o problema do empobrecimento material da
região e o respectivo contraste com a sua riqueza cultural. Os reclamos
desencadearam investimentos em irrigação e revitalização de áreas atingidas
pela seca. Atitudes como essas fizeram de Gonzaga um artista pioneiro em
questionar a marginalização da cultura nordestina. Não a toa, Asa Branca,
passou a ser cantada em muitos movimentos sociais e se tornou um símbolo de
luta de nordestinos e de muitos brasileiros das demais regiões... (Revista Continente, junho de 2012, p.
31)
Esse projeto terá a participação
de todos os professores que fazem a escola, especialmente aqueles da área de
linguagens e códigos, que irão trabalhar diretamente as competências de leitura
e produção de textos. Retomando a obra de Luiz Gonzaga e o nordeste como pano
de fundo, teremos muito a estudar nas disciplinas da área de humanas, uma vez
que a história, a geografia e a sociologia do nordeste e do sertanejo permitem
a compreensão do universo do aluno e a valorização da identidade desse povo.
Importante também nesse projeto é
a pretensão de formar autores digitais, alunos que possam socializar na
internet ideias, recontruí-las coletivamente e permitir a socialização das
mesmas em um veículo de processamento instantâneo que é a internet. Serão
feitos blogs com o mesmo nome do projeto para cada turma do ensino médio, assim
os alunos produzirão textos para serem lidos virtualmente pelos colegas. Essa
ideia de ser visto, lido, notado, aumenta a autoestima do jovem, fazendo com
que ele ganhe autonomia para produzir cada vez mais. O texto virtual, ou
hipertexto, tem a vantagem de poder ser corrigido instantaneamente quantas
vezes o professor achar necessário, tornando o aluno um autor e o seu colega um
coautor. Aproximar a relação de autor e leitor é uma alternativa para criar um
diálogo entre ambos, gerando a intertextualidade tão falada nesse projeto.
E por que considero os hipertextos uma faceta tão
especial? Porque são uma forma inferencial de representar o conhecimento,
construímos significados ( e compreendemos as coisas que nos rodeiam)
estabelecendo correlações, fazendo inferências. O hipertexto permite que essas
correlações (ou ao menos parte delas) sejam representadas de forma concreta e
operacional. Ao lermos um hiperdocumento seguindo uma via em especial, temos
uma visão particular e estabelecemos algumas correlações. Seguindo outras vias,
percebemos outras relações, outras inferências e formas de compreender o
conhecimento ali representado. (Bianconcini
& Moran, 2005, p.169)